quinta-feira, 18 de outubro de 2007

E quando pisca, sai faísca

"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"



Não sei se quem está lendo isso, já teve oportunidade de ler ou ouvir esse texto, de Monteiro Lobato. A primeira vez que eu o ouvi foi no Museu da Língua Portuguesa, e fiquei imensamente emocionada.
A vida é isso.
Num piscar, tudo muda. E o que acontece quando parámos de piscar? Quem pode saber?
Mais sábia era a famosa boneca de pano, que compreendeu isso melhor de que muita gente.

Se a vida é um pisca-pisca eu não sei, só sei que tudo pode ser diferente num abrir e fechar de olhos, seja a vida, seja o mundo. E quem pode ser saber se isso é bom?

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