terça-feira, 23 de junho de 2009

You're gonna crash into me

- Eu nunca mais quero te ver! - E saía batendo a porta, para voltar dois minutos mais tarde, com a mesma fúria transformada em necessidade.
Sempre tinha sido assim.
Mesmo no começo, naquele primeiro dia, enquanto ele tentava chamar-lhe a atenção, e ela dizia que ele podia ser um psicopata.
Foram ficando juntos, num encaixe singular: se davam perfeitamente bem em minutos, para discutir depois por horas. Inclusive nas viagens. Cada novo ponto turístico, uma nova briga. Na Eiffel, foi por causa da água que molhou o croissant, No Coliseu, porque ela não gostou do modo que ele olhou pra atendente. Na Plaza Mayor, porque ele estava achando o calor escaldante.
Mas quando chegavam no quarto, qualquer briga sumia, qualquer hiato daquele sentimento evaporava. Só a sensação de que eles viviam num mundo a parte e o resto era tão insignificante, que nem precisava ser esquecido: já estava apagado.
Sempre chocando-se, para o bem e a sua outra face.
Ela achava que era por causa dos gênios idênticos, contando que nunca tinha conhecido alguém com personalidade tão igual à sua. Ele dizia que ela era só muito brigona. E assim iam.
Até o dia em que os hiatos dos bons sentimentos começaram a ser maiores, os bons momentos mais raros, os beijos mais corridos, e os gênios mais cortantes. Decidiram se separar, antes que, apesar de todas as brigas, aquilo não significasse mais nada, pois sabiam que ali havia muito.
E o tempo passou, às vezes, como dois pra lá e dois para cá. Ela se perguntando, eventualmente, onde tinha ido parar aquele par de olhos claros, e ele indagando, sorrateiramente, as amigas se ela andava feliz.
Até que um dia se encontraram. Na verdade, ela o procurou, e ele lembrou do tempo juntos. E das boas lembranças, começaram a surgir as nem tão boas, e em minutos, já estavam discutindo. O engraçado era que parando pra pensar, eles não lembraram os motivos das discussões, só que sempre se chocavam. De repente, ele começou a rir alto, para a surpresa dela, que então começou a rir também.
Aquilo parecia roteiro de filme água-com-açúcar.
Mas eles sabiam.
Estavam destinados a chocarem-se sempre.

domingo, 7 de junho de 2009

She goes down so hard she might never come back

Eu olho pro relógio e vejo quantos dias já se passaram, e quantas horas foram perdidas.
Eu conto e vejo que já se passou muito tempo, ao mesmo tempo em que tudo se alongou como um bicho cansado. Um segundo leva uma eternidade pra passar, mas um momento voa como se o tempo fosse uma brincadeira cruel.
Está acabando.
E é um fato engraçado de se analisar.
Nós que pensávamos que duraria eternamente. Aquele tipo de eternidade que a gente sempre sabe que acaba um dia, mas que esse dia é tão distante quanto o pensamento da nossa morte, ou da efemeridade das coisas boas.
Ou não boas, apenas distoantes das aquarelas de todos os dias.
E eu olho para esse tempo que passou e vejo que aconteceu tanta coisa, mais do que talvez tivesse que acontecer. Contudo, continuo me indagando se aproveitamos tudo que tinha para ser aproveitado. Todas as novidades irresistíveis, e por isso mesmo, as mais difíceis e perigosas de colher.
Antes o tempo se contava por onde tinha se tinha começado, como uma coleção de conchinhas de praia, onde cada uma era uma coisa especial, porque era uma adição valiosa para aquela coleção, uma novidade.
Agora tudo é como uma ampulheta, que vai derrubando areia em cima de nós, por mais que tentemos empurrar a areia de volta.
Os dias já não são novidades, eles são um acréscimo, uma mala a mais na nossa bagagem, que já está cheia com as novidades de outras temporadas.
Sabe como quando alguém querido está para partir, e começa a arrumar a mala? Ele tira uma peça da gaveta e coloca na mala, então vira-se para buscar outra peça, e nesse intevalo, aproveitamos pra tirar a peça, e esconder debaixo da cama. Ele arruma, e eu vou lá desarrumar.
Porque está acabando.
E por mais que digam-nos (tu, ele, ela, ou eu) que não está acabando, e sim, está em vias de começar um outro jogo, eu continuo pensando que está acabando.
Porque iremos embora com as conchas e a areia, recomeçar tudo de novo num outro lugar.
E eu ainda queria que a nossa coleção estive no início.
Eu sinto que ainda há muito tempo para ser gasto nisso.
Ainda faltam conchinhas na minha coleção.

I drink your poison if you fill the cup

'Como todas as coisas no Universo, estamos destinados, desde o nascimento, a divergir. O tempo é simplesmente o padrão de medida da nossa separação. Se somos partículas em uma distância incomensurável, explodidas a partir de uma única origem, então há uma ciência para a nossa solidão. Somos solitários proporcionalmente aos nossos anos.'

Eu tinha esquecido o quanto eu gostava desse livro do Ian Caldwell.