terça-feira, 27 de outubro de 2009

And we're all going to hell

Todo mundo tem uma fórmula 'certa' pra coisas que o mundo 'precisa'.
Limão e alho pra garganta, sonrisal caf pra ressaca, chá de boldo pra dor de barriga, leite pra azia [fail, ok?], festa pra solidão, tempo pro coração, e um rosário pra desfiar de outras coisas.
Mas eu acho isso tudo uma grande besteira. Sério.
Só eu sei o sabor que me agrada, como sorvete de baunilha com skilhos de presunto.
É estranho, alguns diriam nojento, mas eu gosto, que se pode fazer?
Gosto também do fato de não ter fórmula 'certa', ainda que tenha dias em que queria comprar um remedinho pra alguma dor [todos temos dias assim].
Gosto do fato de ser responsável em fazer as coisas por/pra mim, e não ficar esperando por uma receita secreta e poderosa. Esperar as flores / plantar o jardim.

Como canta a Ida, fique feliz por alguém se dar o trabalho de te dizer certas coisas, ainda que tu não queiras e nem gostes de ouvir. De vez em quando, só é preciso.
Porque não existe fórmula.
Seria muito chato se houvesse.
E mais: não tenta empurrar o teu remédio na garganta alheia.
Nunca funciona. Então apenas pára de tocar na campainha.

* Sorry pela demora, I had a flight to catch ;)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

I'll be waiting

Eu podia ser a pior pessoa do mundo.
Eu poderia pensar em mim em primeiro lugar e fazer algo que, talvez, fosse me beneficiar depois.
Eu poderia. E eu vi. E..
E...
E eu fiz o bom. Eu fiz o que as pessoas consideriam certo.
Não me agradeçam, porque eu não fiz o que eu queria fazer. Eu fiz o que devia fazer e isso não me deixa feliz.
Porque fiz o que eu devia fazer e não o que eu queria fazer. Então eu não sou uma boa pessoa. Eu sou alguem que faz o que tem que fazer.
Eu queria outra coisa. E fazer o contrário não é ser melhor. Não é.
Mas eu simplesmente não sei fazer o contrário.
O que quer que isso signifique.
Isso não me faz alguem melhor.
Não faz mesmo.
Porque eu não me sinto melhor.
Só dói muito. Mas, como eu disse, eu não sei não fazer.
Então?
Não tem então. Essa história não tem moral.
E não quero bem, mal, nem nada. Porque não faz diferença. Não pra mim.
Amanhã eu vou a praia. Tá afim?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

As long as I need it

É engraçado como as pessoas acham que o óbvio te satisfaz.
É engraçado tu tomares determinadas coisas por certeza.
Mais engraçado ainda é tu achares algo e ter certeza de que tá certo, ainda mais em se tratando de outros indivíduos.
Já que a graça de tudo isso é que simplesmente pode não ser assim.
Tu simplesmente pode odiar sorvete de baunilha, achar preto cor de velório ou não estar tão assim para mudanças benéficas agora.
As coisas são como são, e ficar tentando achar explicação, ou se delongar em determinadas coisas só irrita.
E, diversas vezes, as coisas também simplesmente não são. E isso não é ruim.
Ruim é achar tudo previsível e sem surpresa.

O pior é ter que aturar pessoas com as mentes focadas na mesma paisagem da janela.
Nunca entendi o problema de não se gostar de subir em mesas. Ou em árvores, ou no raio que o parta.
Tá, tu podes cair (se fores dos meus) e lascar todo o teu joelho. E daí? A vista vale a pena. E tu tens dois joelhos.
Mas não, tu ficas parado aí, com esse olhar pregado, com uma imagem que insistes em querer pregar na retina alheia.
A retina é minha, eu prego, ou não, algo nela se eu quiser. Assim como sinto o que quero, não o que os outros esperam que eu sinta.

Então, por favor, para de enxer o saco com perguntas sobre ansiedade e todos esses outros 'ades'.
Nem tudo é tão normal ou certo como tu achas.
Somos que nem aqueles shots baratos de bebidas misturadas: enquanto pra mim, era da cor de água suja de pincel, pra ti poderia ser nuvem.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

I never want to cry like this

João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.

É difícil não conhecer essa poesia simples de Drummond, que tem muito do que acontece por aí, não é verdade?
O versinho só não conta que esses nomes são pessoas, dessas de verdade, que tu encontras na rua. Ou que tu podes ser uma delas.
Que João é legal, mas o Raimundo também, e que em outra situação, eles seriam muito amigos. Não fala dos sonhos da Teresa, ou do desinteresse de Lili, e da pobre Maria, que vive se perguntando o que falta nela, e o que tem na Lili.
Porque no fundo, por mais diferentes que sejam um dos outros, a pergunta sempre é a mesma: "Mas o que falta?".
E cada um faz de tudo quanto pode.
João compra o chocolate preferido de Teresa, que se preocupa se Raimundo melhorou da gripe, enquanto este se arruma todo para que Maria lhe note, e ela fica até tarde no trabalho, acompanhando o serão do Joaquim, que pensa no que pode dar de presente pra Lili. E a Lili? Ela se questiona porque, afinal, não gosta de ninguém.
Não falta. Sobra. Sobra vontade, sobra esperança, sobre desencontro.
E falta algo, sim. Falta tempo. Tempo de acertar. Timing.
E nem é culpa da Lili, ou do Manoel, ou do Ricado, ou da Ana, do desconhecido no bar ou da vizinha do andar de baixo.
Sempre tenta-se colocar a culpa no outro, num dos lados dos triângulos, quadrados ou pentágonos.
Ninguém vai pros Estados Unidos, pro convento, se suicidar, mas talvez alguém case com outro alguém que não está na história. Cada um vai continuar, vivendo, viajando, sonhando, querendo, esperando.

O verso se chama quadrilha, mas poderia ser uma dança de cadeira, onde todo mundo tenta sentar no lugar que quer, um mais rápido que o outro.
O que quase nunca acontece.
Então fica-se olhando pra cadeira, com cara de pescador, pensando naquele peixe que nunca pegaste.
Era um peixe tão bonito...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

What's in my pocket, you'll never know

Num mundo sempre visto como fragmentado, difuso, efêmero e todas essas palavras bonitas, com ou sem muito significado, que as pessoas usam tão despreocupadamente e sem realmente se responsabilizar, existem várias coisas que não existem, de fato, na vida.

Estar em um não-lugar, aquele tipo de espaço que é sempre o meio, a passagem, nunca o lugar onde realmente vais estar, é só, como dito, uma passagem, te faz pensar sobre as várias pessoas não-pessoas com quem esbarras nessas várias inter-estaduais 60 da vida.

Não lugar, não pessoa. Aquela que encontras por alguns segundos, dias, ou que apenas ves, mas que guardas impressa na memória, uma marca tênua, mas indelével de que algo esteve ali, e que mais tarde, ao rever aquele filme já quase apagado pelo tempo, a única coisa que consegues captar é um borrão, uma vaga idéia de quem um dia foi alguém. Igual a caixa de sapatos suplantada, esquecida em algum canto qualquer, cheia de negativos, que já perderam a cor, mas que ainda tem um significado. Seja lá o que quer que isso signifique.

Não se sabe porque, como ou ainda a razão de elas estarem e não estarem ali. Ainda que eu tenha certeza de que não se passa muito tempo questionando esses motivos. Em geral, pra quê?

A menina do metrô, que começou a chorar pelo namorado que tinha partido; a moça de nacionalidade indefinida sentada na cadeira de trás, cantando “Halleluiah” na melhor versão; o loiro jovem e efusivo que te disse ‘bem vindo’ numa cidade estranha; o homem bonito do qual eu não lembro o rosto, mas para quem contei meus planos; o conterraneo perdido no mundo, indo para o país dos sonhos; o casal de idosos, entrando num carro, tão parecidos que podiam ser um só; o homem com cara de ator latino que cansou de olhar para a mulher do assento ao lado; o cara com tatuagens tribais e olhar misterioso e ao mesmo tempo perigoso; a adolescente impaciente no terminal, retocando maquiagem; o homem bonito que sorriu a noite toda pra ti e que, de repente, sumiu; ou ainda a estranha que tu nunca mais vais ver, mas que ainda assim, está aí...

Tudo isso me faz pensar sobre quantas vezes somos e fomos uma não-pessoa.

A menina de uniforme chorando copiosamente na rua; o estudante desengonçado segurando uma bola, a garota toda arrumada que subitamente caiu numa escada; o viajante com cara de desespero, que olhava dois mapas, de mochila na costa; a incoveniente da poltrona ao lado; ou ainda, simplesmente mais uma idéia abstrata andante, sem nome, sem bagagem, sem rosto. Um espaço ocupado pelas leis da física, mas um não sem espaço nas leis do homem.

Quantas vezes somos alguma coisa pra alguém, ao mesmo tempo em que não somos nada?

Quantas idéias vagas será que somos por aí? Quantos nãos alguém pode ser?