quarta-feira, 7 de outubro de 2009

I never want to cry like this

João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.

É difícil não conhecer essa poesia simples de Drummond, que tem muito do que acontece por aí, não é verdade?
O versinho só não conta que esses nomes são pessoas, dessas de verdade, que tu encontras na rua. Ou que tu podes ser uma delas.
Que João é legal, mas o Raimundo também, e que em outra situação, eles seriam muito amigos. Não fala dos sonhos da Teresa, ou do desinteresse de Lili, e da pobre Maria, que vive se perguntando o que falta nela, e o que tem na Lili.
Porque no fundo, por mais diferentes que sejam um dos outros, a pergunta sempre é a mesma: "Mas o que falta?".
E cada um faz de tudo quanto pode.
João compra o chocolate preferido de Teresa, que se preocupa se Raimundo melhorou da gripe, enquanto este se arruma todo para que Maria lhe note, e ela fica até tarde no trabalho, acompanhando o serão do Joaquim, que pensa no que pode dar de presente pra Lili. E a Lili? Ela se questiona porque, afinal, não gosta de ninguém.
Não falta. Sobra. Sobra vontade, sobra esperança, sobre desencontro.
E falta algo, sim. Falta tempo. Tempo de acertar. Timing.
E nem é culpa da Lili, ou do Manoel, ou do Ricado, ou da Ana, do desconhecido no bar ou da vizinha do andar de baixo.
Sempre tenta-se colocar a culpa no outro, num dos lados dos triângulos, quadrados ou pentágonos.
Ninguém vai pros Estados Unidos, pro convento, se suicidar, mas talvez alguém case com outro alguém que não está na história. Cada um vai continuar, vivendo, viajando, sonhando, querendo, esperando.

O verso se chama quadrilha, mas poderia ser uma dança de cadeira, onde todo mundo tenta sentar no lugar que quer, um mais rápido que o outro.
O que quase nunca acontece.
Então fica-se olhando pra cadeira, com cara de pescador, pensando naquele peixe que nunca pegaste.
Era um peixe tão bonito...

12 comentários:

NiNah disse...

Caraca, moça!
Adorei...você escreveu basicamente tudo o que penso.
Beijas

Anna Bueno disse...

É a ciranda da vida, amore!!!
Bjos!

Emerson Souza disse...

Gosto da sua linha de raciocínio, que vem sempre conduzida de uma forma muito eloquente.
Bjus.

Fabio Fernandes disse...

É verdade, parece que o "querer" dos outros nem sempre combina ou se encaixa, daí tantos desencontros, tanto amor jogado fora...

Se fosse fácil achar alguém pra amar, a gente não estaria vivo, não haveriam dúvidas, não haveriam problemas... ;)

Bjokas.

Anônimo disse...

Olá Taynar!

Boa prosa essa!

Fiquei ali lendo e relendo o versinho de Drummond e trabalhando as combinações. Num exercício matemático ele serviria para exemplificar Arranjos, Combinações, Permutações, Fatorial de um número, agrupamentos afins. Gostei do jeito que você viu. Gostei do jeito que você me permitiu também ver. Cheguei a pensar que Lili pode até amar alguém... rs

Beijoca.

Ivan.

paulinho disse...

Perfeita a ilustração nesta belissima poesia de Drummond, parabéns!!!

Espero uma visita sua ao meu Blog


http://paulo.de.zip.net/

Sisa disse...

Lembrei de uma vez que uma amiga me deixou um recado rápido no msn: "Preciso ir à sua casa AGORA". E foi. E só Deus sabe minha tristeza ao ver uma pessoa tão especial pra mim chorando daquele jeito. Não pensei duas vezes, ia viajar uns 2 dias depois pra casa da minha mãe e a intimei a ir junto. Parecia que ia ser mais leve, fazer a cabeça "mudar de assunto". Mas em um momento, sentada na sala, ela me olhou, lindos olhos verdes cheios de lágrimas, e perguntou "O que eu não tenho?".
Acho que é este o grande problema. Tem gente que tem demais. Muito mesmo. Tem muito, tem tudo. E pra achar quem enxergue e aceite isso é muito complicado. E mais complicado ainda é explicar pra alguém que tem tudo essas coisas, ainda mais quando ela está de coração partido e olhos lavados de lágrimas.

Acho que me confundi um pouco pra dizer, mas enfim...

Beijo pra vc, e vamos combinar um vinho, uma balada, um passeio, qq coisa =)

M.M. disse...

Gosto da forma como coloca situações do nosso cotidiano em palavras, explicando o que parece estar engasgado e que nem sempre a gente entende ou consegue verbalizar.
Penso como você. Desencontros. Timing. E sempre me pergunto porque a gente insiste em ser importante pra alguém que não nos nota? Porque não notamos alguém que tenta nos agradar? Oh...
Ótimo texto!
Boa semana, beijos

Anônimo disse...

Are you okay, dude?

Ivan.

Paloma Flores disse...

Adorei!
O que é a vida além de uma quadrilha, afinal de contas?
Boa semana!

Unknown disse...

Como diria uma propaganda:
- nunca se sabe quando o botãozinho vai estar ON para alguém nem o que faz ele ligar.

Acho que sou só eu que amo muitos e muitas durante o dia, semanas as vezes...mas num dia de sol ou chuva nada mais está ali...todos os botões estão off e eu sinto uma necessidade tremenda de amar mais e mais... não sei se apaixono-me de mais por pessoas ou pelo simples sentimento de 'sentir algo'

Complicado!

Beijos, guria!

Unknown disse...

Pensando melhor... gosto de plantar sementes e esperar ansiosa pelo germinar.

^^