sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tórax de Superman e o coração de um poeta

Resolvi me pregar na cadeira e tentar escrever algo decente. Sabe-se lá se vou conseguir, mas esse blog tava ficando muito meloso, correndo o risco d’eu surtar de vez, e deletar tudo. Como ainda me resta um pingo de juízo (não me perguntem de onde saiu), cá estou.

Hoje não vou escrever de mim, nem para mim. Vou escrever para algumas pessoas. Na verdade, três delas, que essa semana, estiveram muito presentes na minha vida, de um modo perto, de outro distante, mas ainda lá. Não vou citar nomes, nem nada, se calhar, vocês se identificam.

Enfim...
Há um tempo atrás, depois de uns problemas, ouvi uma definição meio clichê da vida: uma estrada longa, com alguns buracos. Um dia, inevitavelmente, tu cais em algum. Piegas como analogia (raras não o são), mas em algumas situações, o negócio até que calha, e a queda, Nossa!, é desastrosa mesmo.

Às vezes, tu cais e ganhas no máximo um ralão no joelho, que arde quando tomas banho, vestes a calça, coisas básicas. Três dias, já criou o cascão e tu nem lembras mais. Sobra, se tanto, um risquinho branco na tua perna, que algum tempo depois, tu vais te perguntar como arranjaste.
E assim são algumas situações. Tu esperas e por uma série de desventuras, ou simplesmente a porra do 'acaso', o negócio não vinga, te chateias alguns dias, mas vida que segue, o bloco tá na rua, não dá pra esperar, e tu nem queres isso mesmo.

Há os buracos médios. Aqueles que tu cais e ralas o pé, a canela, o joelho, e as feridas te impedem de calçar sapato fechado, ou vestir uma calça comprida por uns dois dias. Dói pra burro, e tu ficas pensando, algum tempo, como tu foste pateta ao ponto de não notar a hecatombe que vinha por aí. A recuperação é lenta, mas a não ser aquela cicatriz que lembras, de vez em quando, tudo é igual.
Desastres médios. Aqueles que aos quais és levado por decisões alheias ao teu controle, mas que acontecem, não dá pra fugir. Tens que tascar Merthiolate, trocar a gaze de manhã e à noite, e continuar andando. Se parar, enferruja.

E vem o desastre. Aquele buraco do tamanho de um fosso, escondido atrás de uma árvore jeitosa. Caíste e junto, quebrou-se parte de ti (aqui, entra o pé ou não). Pronto. A dor é insuportável, tanto que te impede, muitas vezes, de sair do buraco sozinho. Gritas, choras, esperneias, de um modo literal, ou não (tem gente forte, que chora pra dentro, e sem perceber, a dor se torna mais forte por isso). Tens que ir num especialista, que vai te receitar um bando de coisas, e muito repouso. Uma pausa de tudo o que antes fazias. Muito tempo sentindo dor, muito tempo mancando, e muitas vezes depois, ainda vais sentir fisgadas, e ter certeza de que as coisas, ou tu, no caso, nunca mais foram iguais. Esse é o pior buraco. Mas é aquele do qual tu nunca vais conseguir escapar.
Desculpe, Totó, mas tu não estás mais no Kansas.
Tu podes tentar te preservar, viver numa redoma de vidro, onde tudo é rosa e não há dor. Mas vidro quebrar, e se a vida foi feita só de alegria... Vamos colocar assim, parafraseando meu amado Chico: Não haveriam estrelas, ó bela, sem noites por detrás...
É exatamente isso: como vais aprender o significado da gargalhada sincera, se antes disso, não tiveres experimentado aquela solidão tremenda? Não é apologia à tristeza, mas só caindo, é que tu vais levantar, porra. Isso é meio óbvio.
Cair dói, machuca, deixa uma cicatriz ridícula no meio da perna, antes tão bonitinha, mas não tens como escapar. Acima de tudo, foram as quedas que te fizeram ser quem és hoje, as pequenas, médias e os desastres. Pro bem ou pro mal. Mas geralmente, se tu fores analisar, tirando a dor tirana, quase sempre é pro bem.

Então assim: caíste, acontece. Vais ser tão orgulhoso ao ponto de ficar lá, ou vais deixar essa besteira de lado e aceitar uma mão? Vais deixar alguém atravessar esse fosso, te ajudar com a louça e segurar o teu coração, mesmo tu sendo uma baunilha azeda?

Eu juro que se deixares, te convido pra uma cerveja pra celebrar ;)

20 comentários:

Betty disse...

Que texto hein! Caiu como uma luva para mim! Depois de oito anos de namoro ele viu que eu não era A pessoa! Pois é, acho que esse tombo foi grande, né?
Só que estou superando, isso é ótimo, estou me perguntando como fui a única idiota a não perceber que estava tudo errado! Todas as pessoas que me conhece e que conhecem nós dois falaram que demorou e que eu deveria ter feito isso antes, bizarro.
Adorei o blog, sem dúvidas me tornarei leitora. Te linkei lá.
Beijos Betty

Blogueira Master disse...

A queda é necessária. Eu sei o quanto amadureci com elas e o qto ainda amadureço olhando pro passado. Provavelmente muitas virão ainda, mas o importante é conseguir se levantar, né? Vc não seria vc e nem eu seria eu se não tivéssemos os nossos arranhões ou grandes cicatrizes. Bjs

Zunnnn disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Zunnnn disse...

Quase sempre é por bem, mas não é toda vez...
E eu acho que os meus posts estão ficando melosos..rs

Espero que as pessoas tenham entendido o forte tórax enquanto coração jaz em poeta.

Abraço

Nem Li disse...

Ouvi uma frase boa esses dias, "se cair do chão não passa".

Jhennifer Cavassola disse...

São das feridas que a gente cresce e amadurece.
O orgulho é o avesso da humildade. É preciso ter humildade pra aceitar as falhas, aceitar ajuda.

Amei seu texto! Tirei muito bom proveito dele.

Beijos e um lindo fim de semana!

Flávia disse...

Não sei, mas me identifiquei... é isso, me identifiquei...

A cerveja era uma boa. Sem videokê, tá? :)

Beijos!

Homem do Cafezinho disse...

Querida, sabes o que penso sobre seus textos.....mas esse.....PQP, hein!! Precisava ser tão.....no estômago!!!

Identificações todos temos, assim como buracos, o que vale na vida é levantar e voltar a andar, ainda que mancando. Nessas horas é que descobrimos os amigos verdadeiros!!!

Um domingo ótimo pra você, apesar do plantão:P

Nanda Nascimento disse...

Já fiquei incorformada com alguns tropeços, mais sempre lembro deles nos mínimos detalhes para não correr o risco de repeti-los.

Um domingo todo especial para você!

Beijos e flores!

Aline T.H. disse...

=)

Você realmente estava inspiradíssima, hein? Caiu o meu queixo aqui. MARAVILHOSO!

Mas mesmo caindo nos buracos mais fundos, a gente tem a certeza que até eles terminam, alguma hora. Podem ser fundos e ásperos e deixar as lembranças da queda, mas são com elas que a gente aprende a olhar por onde anda mesmo!

Beijo, gata. E bom fim de semana!

iaiá disse...

adorei o texto!
cerveja COM videoke flá! vou cantar a minah seleção musical....vou mudando as aparências disfarçando as evidênias........uhuuuuuuuu

mas sobre o post.

é quea gente passa a vida no futuro esperandoa grande alegria que virá, e esquece de viver a vida no presente, que é feito de pequenas e singelas alegrias cotidianas.
gandes fossos existem. a função é nos trnsformar e voltar a rota pro rumo certo...pois nem percebemos que pegamos o desvio errado. o ser humano é falho e por equanto aprende melhor pelo caminho da dor do que do amor, na experiência da vida.
bjs

meus instantes e momentos disse...

muito bom o post. Muito bom.
Apareça.
Tenha um domingo feliz.
Maurizio

Unknown disse...

Iasto é a vida, cheia de surpresas, e é assim que aprendemos...
Abraços

BelaCavalcanti disse...

lindinha, quem tem complexo de não me quis...nem fui eu :) De qualquer maneira, como não tenho NIENTE a esconder, novo post com homenagem a sacamano, que chama-se Plinio Fraga e também é jornalista! Quem sabe um bom contato para vc!
beijos!

Zunnnn disse...

vou te linkar no meu blog

abraço

Taynar disse...

Bela: Lindona, pouco me importa se o Sacamano se chama, na verdade, Pedro, Paulo, João...
Então, porque tu te dás tanto trabalho de querer provar isso, pra quem não tá interessado em saber?
É só uma pergunta, querida.

Anônimo disse...

Bom.. eu acho que existem sempre aqueles que nasceram para a batalha. Paulo Coelho diz que são guerreiros da Luz. Eles sangram, caem..levantam e seguem.. Existem aqueles que acham que são feito de adamantium.. eu acho que sou assim tambem.. vai ver é por isso que me amarro no Wolverine. Ele se machuca.. sangra.. se fode inteiro..mas se recupera e quando levanta.. coitado de quem o atacou.. analogias da Marvel à parte. Tem gente que é assim e não consegue mudar.. ou pelo menoso trânsito astrológico é extremamente complicado e requer muito.. mas muita paciência.. vai saber..
Excelente texto moça

D.J. Dicks disse...

ouvi um meio de baixo calao esa semana, coselho é que nem cu, tem pessoas que não querem, mas há sempre aqueles que insistem em te oferecer. engraçado até

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Têm piores, sempre têm aquele buraco filho de uma égua no qual você se joga só pra ver o quão fundo era e quando nota tá preso no poço chamand bombeiros exposto a uma situação ridícula.

Mas enfim, com ou sem ajuda dá pra sair de lá.

No fim das contas, quando olhamos para trás foram as cicatrizes que fizeram nossa vida valer a pena, o prazer nos faz felizes, a dor nos define por natureza. Pelo menos na vida dá pra equilibrar os dois, sendo felizes sem perder nossa identidade, não sou muito baunilha, hoje estou meio, café sem açucar, minha revolta mais uma vez virou uma história splatter que começou a ser reescrita, novos parágrafos, mesmo psicopata.

Beijos. Um bom fim de dia.

PS: Espero que goste da minha história de terror, ela acabou de começar e não têm previsão de um fim. Mas o fim já escrevi.

Unknown disse...

É os buracos são inevitáveis, assim como os tombos e os arranhões.
o que pode ser escolhido é a forma que você vai passar e se recuperar de tantos buracos...
o que deixa a vida com uma bela filosofia de superação são aqueles que colaboram segurando seu coração ou pagando uma cerveja pra celebrar ;)