domingo, 8 de fevereiro de 2009

Mas vejo bem o que você não me diz

... recado após o sinal. Beeeeep!

- Ern, oie! Que ridículo deixar recado, mas eu não consigo deixar o ridículo de lado certas horas. Não vou dizer que faz tempo que não conversamos, porque isso sempre acaba dando em briga, e nenhuma que venha a ser superada depois.
As coisas estão indo bem por aqui. Tu ias te apaixonar pela cidade. Me pondo agora no teu lugar, eu acho que já terias descoberto uns trocentos lugares escondidos, soturnos e excêntricos, que ias me convencer a ir, pra te ver olhar com cara de admiração pras coisas, sabe aquele olhar de profunda e benéfica surpresa? Já ias ser amigo de todos os hippies, alternativos e mendigos, e já terias caído de bêbado em alguma calçada de pedra daqui. Ah, e tu, COM CERTEZA, já terias perdido o teu celular, tuas chaves, teus documentos, qualquer e toda coisa, em algum ou todos os cantos.
Tu ias ficar louco com as calçadas, os prédios antigos, as paisagens de tirar o fôlego. Na verdade, tu ias ficar louco com a possibilidade de poder andar, às 4 da manhã, sem medo, pela cidade. Eu acho que disso tu ias gostar muito, e farias isso todas as noites, e me convenceria, novamente, apesar do frio quase polar, a ir contigo. E eu iria, resmungando, mas feliz da vida. Das pessoas, tu ias gostar de ver os clichês, e estranhar o estilo dos homens. Comparado com o teu kit bermuda+havaianas, eles pareceriam modelos, mas tu nem ias estar ligando. Tu pouco ligas pra essas coisas, e isso me faz mais perto e me irrita mais ainda contigo, eu sempre ficava puta quando me arrumava toda pra sair, e lá iamos todos pra algum pé-sujo, por decisão tua, mas estou divagando, como sempre.
Eu disse que ia morar na cidade grande, mas me apaixonei pela pequena, e tu ias achar isso demais. Tu sempre achavas as coisas, da forma como eu as pintava, demais, sendo elas assim ou não. Ias brigar comigo por ainda não ter feito uma doidice verdadeira, do tipo estar de bobeira e cinco minutos depois, no Marrocos, perdida na Medina, na companhia de uma toalha e só. Todo dia tu ias me perguntar porquê, Diabos, eu ainda não estava com uma passagem marcada.
Não ias aliviar, e ias brigar pelas pequenas loucuras de cada dia. Ias me chamar pelo meu segundo nome e dizer pra eu parar com essa viagem de vasos que não são vasos e atitudes impensadas, peloamordeDeus.
Ias me escutar discorrer por horas sobre as pequenas futilidades e frugalidades do meu dia, e no dia seguinte, ainda lembrar da cor da minha galocha nova. E me chamar de consumista!
Ias querer que eu descrevesse a vista do meu quarto, de onde eu vejo a Ria (A Ria! Tenho certeza de que passaríamos muitas horas, perdidos, andando abraçados por lá!), e um pôr-do-sol de matar qualquer um. Eu, com certeza, já teria te enviado umas mil quinhentas e cinquenta e duas fotos!
Ias ler todas as minhas matérias pro Mestrado, dizer que estavam uma droga, me deixando no chão, ou se estivessem boas, passar pros teus amigos lerem, dizendo como estavam do caralho e tu sentias um orgulho imenso de mim.
Eu já te contei que minhas notas tão excelentes? Eu tinha que te contar isso. Te contar também que meu professor é 'excêntrico', e eu tenho síncopes regulares quando ele se aproxima muito de mim. Na verdade, tenho encontrado pessoas muito excêntricas aqui. E acho que fiz alguns amigos. Queres que eu te conte sobre eles?
Sabia que eu pouco tenho falado? As pessoas daqui adoram falar. Não sei se eu adquiri paciência demais pra ficar só escutando, ou pouco percebo receptividade pra me animar a falar. Assim sendo, eu só observo. Acreditas nisso? People change! Mas eu sinto falta de ter alguém que realmente me ouça, que realmente ache interessante que eu fale sobre 'olho de cão azul'. Porquê ninguém tem me deixado à vontade o suficiente pra que eu fale as minhas palavras? As idéias realmente estão no chão, mas apesar de muito estar tropeçando, solução que é bom...
Não sei se tu te animarias em fazer russo comigo, mas, com certeza, eu te pentelharia até tu saberes os rudimentos básicos, como eu fiz com o francês.
Ah, e eu precisava que alguém em escutasse falar novamente que só porquê uma pessoa não fala, não quer dizer que ela não saiba. O tal do mal do esperto, achando que o outro é burro. Perspicácia não é um dom encontrado em muitas pessoas, e isso vai sempre me irritar. Continuo sendo o dragão de pêlo.
Eu tenho lido livros excelentes, e sempre tem aquela frase que me marca, lembra do 'respondeir por você'? Também tenho vistos bons filmes. Mas tu ias me esculhambar por estar com o horário todo desregulado, virando, de vez, uma quase vampira. Assim como tu, eu continuo com pânico de agulhas, ainda que tu sempre me convencesses a ir doar sangue contigo. Pensando agora, eu vejo que tu tinhas o poder de me convencer de muita coisa.
De tudo isso, eu sinto falta de dizer o quanto eu te amo, e o quanto essa tua falta me tira o ar quando penso nela. Eu descobri que sou boa em não pensar no quanto tudo entre a gente foi pro ralo, o quanto me dói todo isso. Se pensar no quanto tu me fazes falta, eu fico pra baixo e me lasco ouvindo 'Eu Era Um Lobisomem Juvenil'. Vai entender.
Acho que essa tua caixa postal é enorme, tô aqui falando há horas, jogando palavras, como quando a gente conversava, mas com o diferencial de não ter a tua voz de resposta. Isso é um saco.
Acho que o mais me deixa assim é não saber como falar ou escrever pra/sobre ti. No presente, ou conjugando tudo no passado.
De qualquer forma, só liguei pra que soubesses que eu estou viva. E continuo sentido a tua falta, esperando a tal da carta que nunca vem, ainda que tu jures que um dia ela chega.
Ainda assim, boa volta de rotina, aproveita a terrinha esse pouquinho mais que estás aí, dá um beijo nas pessoas certas por mim.
Te cuida.

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PIM!
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13 comentários:

Unknown disse...

Você viu One Tree Hill...

Se te consola, o Luke nunca decepciona. Ele só precisa dar umas cabeçadas antes de voltar pra casa.

Beijos

JP disse...

Hummm uma apaixonada por Aveiro?! :)

Aline T.H. disse...

Tá maravilhoso o texto, mas me deu uma tristeza profunda. Fora de brincadeira.

Você, como sempre, escrevendo muito bem!

Beijos. Quando a cara de bunda passar, eu volto e a gente põe ao menos dois assuntos em dia ;-)

Cara de 30 disse...

Nem tudo que precisa ser dito, é para ser ouvido, correto?

Beleza de texto... Tenho a impressão de já estado por aqui. Com certeza voltarei mais vezes.

Blogueira Master disse...

A gente pode ir pra onde for. Liboa, Medina ou Aveiro. Mas carrega as pessoas, dentro, junto com as malas e com os sonhos... Bjs

Paulinha* disse...

Olha, TUDO que eu gostaria de dizer e não tenho coragem..parece a minha história.
me deixou com uma tristeza ao ver o passado..
posso copiar?deixo os créditos,claro!
bjos

Paulinha* disse...

é...espero mesmo reencontrar..
obrigada,vou postar no meu blog.
depois passa lá e vê!

bjinhos

Viviane de Campos disse...

oi...
parece q todos já vivemos algo assim.
mas vc expressa tuso isso tão poeticamente....
enfim... existem esses amores q ficam pra sempre...
é a vida
bjs

paula.. até aqui prima???

Carrie disse...

oieee tem um selo p vc no blog (p.s. - ele tem toda uma corrente e tal..mas eu achei lindo, e ofereço de coração, mesmo se não quiser passar pra frente!) bjs

Unknown disse...

Poxa... eu estive fora por 17 dias e senti muita saudade. Lógico que eu ficaria mais um mes mas, a saudade é inevitável.

Achei bem escrito!

Beijos, guriazinha!

(cogu)

Dani Antunes disse...

"Deletou? Não creio!!"

Cara, que post lindo! Amei.

Amor puro e verdadeiro...

JP disse...

http://palavraestranha.blogspot.com/2009/02/diz-que-e-uma-especie-de-premio.html

:)

Andréia Sant'Anna disse...

Oi! Visitando a blogosfera, acabei cheguando aqui em seu espaço; e adorei seu blog.

Esse é o segundo texto seu que leio, e parece que estou me vendo no espelho. É, parece que todas nós vivemos momentos iguais.

Quero te convidar a conhecer meu blog(www.andreiasantana.com), lá eu falo sobre moda (trabalho na àrea da moda), beleza, comportamento, e cotidiano e meus devaneios de vez em quando. Vai ser um prazer te ter por lá.
Beijos