segunda-feira, 20 de outubro de 2008

E pela minha lei...

João e Maria.
Igual à música de Chico.
Nomes comuns, pessoas comuns.
Se encontraram na fila do supermercado. Ela com uma garrafa de vinho, três barras de chocolate e pão de forma integral. Ele com uma caixa de cerveja e batata frita.
Ela na frente, permitiu que ele a analisasse. Nenhuma deusa, mas bonita. Mediana, cabelos ruivos encaracolados até metade das costas, ombros estreitos, bunda grande, vestido simples e sandália de salto, boa pedida. Fila longa, ela se virou, dando o tempo da análise de Raio-X dele: alto, podia perder uns dois kilinhos, cabelos escuros, sorriso bonito, dá pro gasto.
E ficaram se encarando por algum tempo, ela com um sorriso, tímida, e ele com o olhar galanteador. Ele resolveu chegar. Compras, fila longa, tempo, qualquer coisa que desse tempo pra encantá-la.
- Oi, João! Boa noite!
- Oie, Maria. Nossa, fila longa, né?
- É, fila longa, dia quente, caixa lenta, maravilha, não acha?
- Maravilha mesmo! Pringles?
- É vício, engorda menos que Ruffles, um dia inventam cerveja diet também. Chocolates?
- Credo, cerveja diet? Prefiro vinho. Amo chocolates. Sabe como é né...
Nessa hora, chegou a vez dela no caixa.
- Sua vez, boa sorte!
- Ah, obrigado!
- E ela olhou para João com uma cara de 'Poxa', mas seguiu adiante.
- Se você me esperar pagar até te faço companhia depois caminhando - Continuou ele, chegando mais perto, o bastante para não deixar escapar nem conversa nem interesse. Já ela sorriu, mais pra dentro que outra coisa.
- Eu ia adorar.
João passou por trás dela, espremido contra o outro caixa para evitar besteira, e montou as sacolas, embalando as coisas de Maria.
- Momento de cavalheirismo só pra lembrar que ainda existe isso.
- É coisa rara mesmo, olha – E ficou observando enquanto ele sacou a carteira e terminou todo aquele velho ritual.
- Vamos então? Meu carro tá no outro quarteirão, e o seu? – Falou Maria, enquanto colocava tudo de qualquer jeito na bolsa, para não perder o passo.
- Vim de bicicleta, moro aqui perto. Mas te acompanho até o teu carro.
- Bom, aproveitando a raridade se deixar até carrego suas bolsas.
- Ah, poxa, não precisa, é bem leve, na verdade
- Bom eu tentei...
Ele não conseguiu esconder o largo sorriso na face ao sair. E num momento de puro embaraço, seguiram calados, até que ela chegou ao carro, e bicicleta dele estava ao lado do veículo, acaso!
- Tá, então... Eu tenho que ir - Falou, rezando para ele pedir seu telefone, mas nessa hora, o celular dele tocou.
- Só um segundo... – Atendeu, pegando a bicicleta. Fez a pior cara do mundo, aquela que tinha estampado problema na testa - E eu que já estava até feliz, bom, acho que nos despedimos aqui então.
- Tudo bem. João, foi um prazer! – Como numa dança desconcertada, o celular dela começou a tocar. Era a mãe.
- Opa, o meu agora, tenho que ir. Tchau! - Saiu, jogando a bolsa no chão do carro, e perdendo a ligação.
Maria desceu com o carro a ladeira, enquanto João, na bicicleta, fez o caminho inverso, subindo. Na cabeça dos dois, um incomodo sem explicação.

Pois você saiu no mundo sem me avisar, agora eu era o louco a perguntar o que que a vida vai fazer de mim...

[ Taynar & Sargento Peixoto ]

34 comentários:

Ana Rosa disse...

Adoro histórias, adoro viver a fantasia do outro, por isso adoro livros e os contos que ali se encontram escondidos.
Por sinal adori o texto, viajei com eles,bjs

Aline T.H. disse...

=)

Vocês dois mandaram excelentemente bem. Sem palavras pra comentar, viu? Adorei!

Beijo!

Flávia disse...

Gente... que dupla boa que vcs fazem!!

Delícia de continho... por que será que eistem alguns cmainhos que se cruzam só pra se descruzar em seguida, né?

Beijos!

Anônimo disse...

Encontros e Desencontros. Adorei o post, vcs dois realmente se saem muito bem, juntos.

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Eu lembro disso. Nem preciso comentar, estava lá quando aconteceu. Desculpa, ontem não tive tempo para comentar, além de lavar, passar e cozinhar eu tive que dar banho e trocar fralda, hoje só vou poder postar a noite, mas entra um post duplo, palavra de Sargento.

Anônimo disse...

Muito bom!!!

Mas que coisa esse incômodo, neh? É a pior sensação... Caramba... Aí começam: e se eu tivesse falado alguma coisa????

Agora eu me pergunto, a gente acredita naquela de o que é pra ser será, ou o certo seria correres atrás?

Fica beeem!

Beijos!
Xu

Viviane de Campos disse...

é sempre assim.. primeiro diferem nas idéias.... depois rola um clima virtual e sei lá mais o q..... hahahahaha.... e agora esse texto...
lindo lindo
bjs

Gustavo Martins disse...

Tudo bem que agora vcs são duas e uma delas (a dona original) anda namorando poliça, mas parara de passar no MCP é uma tremenda maldade.

bete disse...

poxa, bela dupla vcs formaram hein?
ficou tão lindo
e taynar sempre me lembrando do meu ídolo...final tão gostosinho.
bjs pros dois.

Blogueira Master disse...

Que graça... Adoro contos cotidianos!! E teus textos são dos melhores entre os blogs q eu visito, verdade.
ps: Não sei se ele te irmão, Taynar, mas perguntarei!! Ah, mas já desencanei. Sabe como é? Ficada de uma noite só rs Mas como a gente se cruza na academia, eu pergunto rs Beijos

Nem Li disse...

Como diria a Hebe.. Uma graçinha!

Nem Li disse...

Não faça isso....Deixe o comentario.

Agora eu estou curioso e como diz o velho ditado: curiosidade MATA!

HAUiha

Nanda Nascimento disse...

Esses finais são comuns, infelizmente, mais é o que torna a história mais interessante.

Bela junção!!

Beijos e flores!

simbol disse...

Será que eles iram se ver outra vez? Será que era a namorada gravida do João no telefone? Texto com aquele "que" de QUEro mais. ^^

Muito ótimo.

Unknown disse...

Ah! Quão bom é falar de um cotidiano banal, leve e comum de forma tão divertida.

Encontros e desencontros da vida.

Adoro!

beijos

Lyn Monroe disse...

Adorei a historinha!
contos escritos a 2 sempre sai um resultado bem interessante, ainda mais envolvendo um acaso, um encontro.
Ja tive essa experiencia!
beijos!

Sargento Peixoto - O Monge disse...

O problema é que a luz normalmente é um trem, eu vou usar essa semana como uma pausa no Grind, eu tenho algumas outras histórias que eu quero publicar, sem contar que não critico o jornal faz alguns dias.

Uma breve pausa pra deixar quem lê isso na vontade.

Beijos futura esposa, vamos já planejar nossa próxima obra juntos.

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Cotidiano atualizado, hoje com um post mais, Old Fashion.

Anônimo disse...

Será que eles ainda se encontram algum dia, mesmo seguindo em direções opostas?
Fanta uva = gay.

Anônimo disse...

Encontros e desencontros...

Ah, taynar, você já viu que tem meme pra você lá no blog? Meme 3x4.

xêro ;)

o que me vier à real gana disse...

Malditas antenas!... as que permitem a existência dos celulares (eh pá, malditas só nestes casos!). Então, tendo cupido como narrador, e nem assim!?

Belo texto, espelho reflectindo milhões de "objectos".

Taynar, se puderes comenta o novo post do "real gana".

Zunnnn disse...

nao querendo ser repetitivo, mas já sendo...

o que que a vida vai fazer por mim?
to cansado de fazer dela o meu unico meio de pulsar.

e as pessoas chegam no nosso mundo sem avisar e saem dele sem avisar...
as vezes um até logo, vira um adeus.
as vezes um adeus, vira um ate logo.
Imprevisão da vida é essa...
A de nunca saber absolutamente nada do que vai acontecer.
Joãos e marias vivem se encontrando e desencontrando nas filas da vida..rs
alguns por alguns segundos e se tornam lembranças mais desconcertantes pela vida toda.
outros, apenas um complemento..
e outros viram até razões de existencia daquele momento tão impar.

Tava demorando vc voltar, mas ótimo por ter voltado.

Abraço

mania disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mania disse...
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mania disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mania disse...

ela sumiu no mundo e ele se perdeu hauhauahauhahau

Anônimo disse...

Ótimo texto, é bem assim mesmo, como na músca do Chico.
Beijo, guria!

O Profeta disse...

Porque o pensamento é milhafre
O infinito e o incomensurável
O orvalho das pequenas coisas
Uma breve prece, uma aventura notável

O sonho de hoje voa no amanhã
Esta terra prende-me os pés
Um fruto maduro é repasto de pássaro
Um caminho feito de lés a lés


Boa semana



Mágico beijo

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Se não aparecer na televisão futura, menos de metade das pessoas vão lembrar, pergunta hoje o nome do menino que tempos atrás fora arrastado preso ao cinto de segurança que fora motivo de pena de milhões e hoje ninguém mais se lembra dele ou o nome dos jovens que morreram na Candelária ou em outros absursos que vamos vendo ao passar dos anos.

O que me revolta não é as pessoas se comoverem com as tragédias, isso qualquer imbecil faz nós nos colocamos naquele lugar ao ver algo assim, imaginámos como seria se fosse com a gente, o que me irrita é a facilidade que todos esquecem o que aconteceu de importante, eu conheço gente que nunca soube o nome do vice-presidente da república e ele tá lá desde o primeiro mandato do Lula e eu nem votei nele.

Isso me assusta porque é assim desde que eu participava de movimentos estudantis, hoje grosseiramente montando uma estatística 80% do povo é IGNORANTE, gente que se aliena porque tá ocupada demais olhando pro umbigo para ver outra coisa em volta.

Parece que nos dias de hoje ninguém mais se importa, mas eu faço minha parte, socil e culturalmente eu exponho meu ponto de vista, faço meu trabalho, faço serviço social numa creche quando posso e tento criar meu filho da melhor forma possível. É pouco... É. Mas se eu não fizer ninguém vai fazer aí vai ser menos.

Eu não sei quem disse isso, mas eu apenas concordo. Sou apenas uma gota de água no oceano, mas sem essa gota ele fica mais vazio.

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Nota todas as perguntas que fiz sei a resposta na ponta da língua. Só porque gosto de manter na minha cabeça um diário de guerra.

"Leave no man behind"

Ruberto Palazo disse...

Texto em dupla é? Uauu..... maravilha isso aqui!! Encontros e desencontros, caminhas que se cruzam e descruzam como o vento muda de direção.... coisas que a vida nao explica e que se suscedem todos os dias...

Beijos

Conde Vlad Drakuléa disse...

Espetáculo de texto como sempre!
Beijos!

Jaqueline Lima disse...

que história assim. bonita. e com um final. fim. quer dizer. depois tudo acaba. ele sem saber. ela também. deveria ela ter falado que era a mãe no telefone. quem sabe ele não dizia que era só um amigo também...

Beijos!

Anônimo disse...

mas aí ela ficou procurando ele em cada supermercado que ia ahuahauahuaahua