quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tenho medo do medo que dá

E quantas oportunidades a gente perde pelo medo. É piegas, mas acho que nunca deixa de ser verdade. Não sei se medo de medo, ou medo do que a gente acha que as pessoas acham que é certo e ir fazer o errado.

O fato é: a gente perde por medo. E quando vê, fica desejando ter uma nova chance, pra ver o que aconteceria.
Por muito tempo sofri da dor do que poderia-ter-sido-e-não-foi. Hoje em dia, eu aprendi a conviver e aceitar as minha decisões, mas ainda têm momentos...

Sabe aquelas pessoas com quem você topa uma vez na vida, totalmente por acaso, e depois se pega pensando: "O que eu não daria pra ter uma segunda chance e ver essa pessoa novamente?"
É o diabo daquele pensamento: Como eu deixei isso escapar?

Essa semana me lembrei do que aconteceu tem mais ou menos um mês comigo.
Tava fazendo umas das trocentos e cinquenta e duas conexões que, quem vai do Norte pro Sul, tem que fazer pra chegar em algum lugar; Belém, Brasília, indo pra Rio, pra depois chegar em Florianópolis.
Eram 6hrs da manha, eu ainda não tinha dormido e tinha bebido antes de embarcar, então não tava com o espírito mais animado. Ainda por cima, o dia tinha amanhecido nublado, e o Galeão (aeroporto do Rio) tava fechado, ou seja, MAIS atraso no vôo. Então, estava eu, com minha bolsa 'de mão' (onde devia caber uns dois cachorros de tamanho médio), uma necessairie e uma mochila com livros, encostada numa bancada, esperando... Quando um cidadão se encosta do meu lado.

(Pausa para uma breve explicação: às vezes eu sou a pessoa mais rápida do mundo em reação... pros outros! Comigo, sofro de indiferença aguda, às vezes, chamada de lerdeza pura)

Continuando...
Como tava cansada e só pensava em dormir, nem olhei pro lado. Ele começou a puxar assunto. Atraso, tempo, aquelas coisas bobas que a gente fala quando topa com algum desconhecido em aeroporto. Quando dei por mim, já tava falando sobre a minha viagem, da prova que ia fazer, ele do emprego, de como amava o Rio, dos lugares que já tinhamos visitado, e por aí foi.
Passei uns belo 40 minutos conversando com ele. Detalhe: o cara era gente boníssima, bonito, viajado, super simpático, e ainda tava me cantando!
Na hora do bendito embarque, ele me perguntou o número do meu assento, e por falta de sorte, era bem longe do dele. Nos despedimos e eu fui pro meu lugar, pensando como um cara daquele podia ter me dado bola e a besta nem perguntando o nome do ser humano. É, acreditem, não perguntei.
Chegando no Rio, ainda dei uma boa olhada pra ele, mas como ele tava todo atarantado, pegando a mala, nem me atrevi a ir lá.
Quando já tô na outra sala de embarque, o vi me procurando, mas aí já era tarde, e eu já tava embarcando de novo.

Moral da história: Poderia nao ter acontecido nada, pode ser que o cara, olhando mais de perto, nem fosse tudo isso, fosse um mala, um sociopata, tivesse mania esquisita, sabe Deus o quê!, mas isso é uma coisa que eu nunca vou saber, porque a besta ficou com vergonha de ir lá, trocar pelo menos um endereço de email.
E porque não trocou email? Porque ficou com medo.

É certo, hoje a gente nao sabe como andam as coisas, e ainda mais a mente das pessoas, e não dá pra sair por aí falando da tua vida pr'um cara que tu nunca vistes. Mas... um email?

Novamente: o que poderia ter sido? Não sei.

Só sei que não quero ser uma pessoa que tem medo.

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá

Lenine

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