domingo, 15 de fevereiro de 2009

They'll all come around...

Hoje eu acordei descabelada e me sentindo estranha.
E no primeiro momento, eu não consegui identificar porquê. Subitamente, eu tive alguns flashs. Água quente, no meu travesseiro. Aquela batida triste na caixa de som.
E também lembrei de mim mesma, de pé, em frente ao som, procurando uma música que eu sabia que não ia achar, mas isso não era relevante. O relevante era procurar a música e não pensar no que eu teria que fazer logo em seguida.
Mas aí, eu já não poderia fugir. Respirei fundo, como em tantas outras vezes, e coloquei aquela minha velha roupa. Aquela que, infelizmente, nunca ficava por tempo suficiente trancada no meu armário.

And the doors are open now
As the bells are ringing out

Não velha de esfarrada, mas velha de conhecida. Roupa ou papel, tudo dá no mesmo.
Respirei fundo e coloquei a roupa/máscara/papel/posição/atitude. E apesar de já me ser tão conhecida, toda vez que tenho que vestí-la, é sempre uma dor.
Mas eu sabia que teria que fazer. Alguém sempre tem que fazer, e inevitavelmente, sempre sou eu. Queria entender o porquê. Maldito dragão de pêlo que sou.
Então, como em tantas outras vezes como dito, lá estava eu, caindo aos pedaços por dentro, mas com a roupa e máscara reluzente por fora. Como diria a minha mãe, se a Janete Clair fosse viva, ela estaria perdendo meu talento.
Eu vesti, e como sempre, me caiu bem. Pelo menos nunca ninguém reclamou. Vai ver não ando encontrando pessoas muita atentas. Ou vai ver, a roupa me fica tão confortável, que ninguém consegue perceber que ela é cheia de espinhos por dentro.
De qualquer forma, é um papel que vai me acompanhar por um tempo. Eu já conheço esse script. Have been there, have done that. Não há cena próxima que vá me surpreender, nem fala que vá me comover. Eu já conheço esse caminho. Mas ainda assim, é um roteiro que eu não queria que estivesse na minha mesa de cabeceira quase tantas vezes. É um papel que eu desempenho bem, eu sei, mas eu não queria ter que representá-lo. Essa roupa realmente não me aquece.
Hoje eu me sinto com uma ausência tão presente, que é quase como se um corpo físico, sem alma, me acompanhasse. Como quando tu vais na frente, mas tem uma cordinha, te ligando à um corpo físico, inanimado, que torna o teu passo pesado, e que, apesar de não estar realmente lá, fica trazendo o tempo todo a lembrança do que está faltando. Um João Bobo cheio com terra, sem o sorriso.

Now the man of the hour
Is taking his final bow
As the curtain comes down
I feel that this is just goodbye for now

A ausência, às vezes, é tão palpável, que esse corpo me deixa lenta.
De modo que, hoje, eu acordei com a máscara e a roupa, e sei que terei que usá-las por algum tempo. E também sei que esse corpo pesado e sem vida, mas que é tão presente, também está aqui, assim, eu sei o que me deixa estranha.
O que eu não entendo é o porquê de me sentir assim.

* Texto revisado pela Mirna. Por falar nela, faz tempo que ela não dá as caras...

7 comentários:

Jhennifer Cavassola disse...

Revise tudo que tem vivido e procure dentro de si mesma, a resposta com certeza vai aparecer, vc vai ver.

Estou com saudadess!! Todos aqui estão. Resolve logo essas pendencias externas.

Beijos e uma linda semana!

Anônimo disse...

Vestir uma armadura é dificil, viver o "personagem", idem. As mascaras caem, cedo ou tarde, a diferença de vesti-las, está na segurança que de alguma forma elas nos proporcionam. A ausencia é quase uma doença. É o momento em nossa abstinencia é o exagero do outro.
Nos acostumamos com a lembrança amarrada ao pé, e esquecemos, durante um tempo, de VIVER literalmente, o "novo" presente

They call it life, my dear...

Beijo...

saudades daqui. =*

Johannes disse...

Eu ja acreditei mais na metamorfose da mascara para o seu eu!
Mas será que se fazer, é algo tão bom? Sabe... as vezes pode ser meio decepcionante para algumas pessoas, quando elas descobrem que tudo era uma armação. Enfim.. eu ja desisti de ter uma mascra faz tempo, até pq eu nunca consegui usar ela de modo aceitável!

Como sempre.. belo post Taynar! Parabéns!

Paulinha* disse...

Já disse..vcs escrevem TUDO que eu sinto..parece até que sou eu escrevendo!

Mirna disse...

sabia q...minha orelha tava quente...eras tu =p



sabes q amei o texto, já disse!

pq precisa ser assim, pq é preciso usar algo tão pesado...só pq usamos direito!

=*

Gustavo Martins disse...

vc tão ativa aqui, e tão sumida de lá...

=P

Pqa esse abandono hein, bela?

Flávia disse...

Descabelada e estranha, ah, tão eu, tão eu.

Tô começado a achar que você sou eu, Taynar. Sério. Medo de vc, rsrs.


Beijos!