segunda-feira, 29 de março de 2010

De um tempo que ainda não passou

Eu ando com uma saudade funda, tão funda que me faz ter insônia.
Uma saudade de eu não sei o quê. Se é de coisas que passaram, coisas que estão longe, coisas que poderiam ter sido, ou coisas que eu ainda não vivi.
Costumo achar que são das que eu ainda não vivi.
Como se eu soubesse o que são, e sentisse a falta delas, esperando elas chegarem, sem saber quando, porquê ou se vão demorar. Só esperando que elas cheguem.
Fico assim, com essa saudade funda, que me tira o sono e o foco, porque nem imaginar coisas pra chamar o sono eu consigo; tento imaginar o que falta, mas não consigo advinhar, aí fico pensando, sonhando, adormecendo e acordando.
Pior do que sentir saudade é sentir saudade de algo que tu não sabes muito bem definir o que é. Se é alguém, um lugar, um sentimento, um momento, uma idéia, uma doidice. Qualquer coisa.
Eu não sei se pelo menos me conforta saber que a saudade vai acabar, porque eu não sei o que me falta. Como preencher um espaço que tu não sabes a forma, sabor, ou cheiro?
É tão confuso quantos os pensamentos que eu tenho semi-dormindo-desperta.
Eu só sei que sinto saudade.

*'Atrasa o meu relógio, acalma a minha pressa...'

sexta-feira, 26 de março de 2010

And when we collide we'll see what gets left over

O mundo é louco, maluco, pertubado, tem problemas com a mãe, o pai, fala mal de todo mundo, mas passa horas encarando o pé, acha que é um peixe, tem rabo e não gosta de sorvete.
Ou as pessoas gostam de acreditar nisso, porque assim fica mais fácil sobreviver a mais um dia, e não pensar que tu tens sérios problemas por não gostar de sorvete.
Esse papo de que ninguém é igual é verdade, e procede. Assim como ninguém é normal, ou todo louco é louco de todo.
Eu acho que tenho problemas com coisas gravadas em pedra. E as pessoas adoram tacar pedra na minha cabeça.
Penso que o mundo é parcialmente louco, as pessoas são completamente e indubitavelmente piradas e o Murphy era um cara muito sábio. Isso sou eu, o que eu acho, mas posso mudar daqui há dois segundos, sem problema. Se não existe verdade absoluta, porque é que justamente eu vou ser imutável? Faz me rir, diria Dona Alda (beijo, mãe!).
Mas eu também acho que loucura pode ser boa, muito boa.
Entre nós? As pessoas muito certinhas e 'normais' são as que me dão medo, pânico, terror. Eu nunca sei o que esperar delas.
Dos loucos? Tudo, e isso é confortante.
A resposta pra toda essa loucura é não surtar com as maluquices do dia-a-dia, por mais insanas e imprevisíveis que sejam. Ou então surtar, mas por cinco minutos. Depois, relaxar.
Não se leva nada, certo?
Então, vamos lá. Cometer doidices aleatórias. Usar um enfeite enorme na cabeça, abraçar um completo estranho na rua ou simplesmente, sair cantando em voz alta, bem desafinadamente, a plenos pulmões (Eu aconselho esta, o símbolo das minhas noites insones, que eu canto pra acordar quem tiver do meu lado. Beijo, pai!). E isso nem é loucura, por favor.
Essa é a diferença.
Porque se isso é ser louco, o mundo normal é muito chato.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Quiet times

Fico encantada com as singularidades que acontecem na vida por vezes.
Os pequenos detalhes, os breves momentos, os casos particulares em que o mundo parece rodar todos os graus possíveis, e tu voltas ao mesmo lugar, só que diferente (subir, mesas...).
Eu estava tendo uma noite particularmente ruim há um tempo atrás. Não trágica ou algo assim, só estava cansada de situações que não cabiam a mim resolver, mas que me envolviam e me puxavam pra baixo.
Me sentindo sozinha. Ainda que houvesse alguém do meu lado, percebi que, às vezes, as pessoas nas quais encostas o teu ombro são as que menos estão/querem estar presentes, de modo estás sozinha na mesma.
Virei para o outro lado, olhei pela janela, mas já não se distinguia nada da paisagem na noite, então comecei a chorar, silenciosamente.
O trem parou numa estação e um casal de adolescentes entrou, fazendo estardalhaço. Deviam ter uns 15 anos.
O menino ficava tentando chamar atenção da garota, com beijos, abraços, e ela uma cara emburrada, que a fazia parecer ter 5 anos de idade. O que quer que ele tivesse feito, ela fazia questão que ele percebesse que não tinha gostado.
Do nada, a menina começa a fazer caretas. Na minha direção.
No primeiro instante, eu não liguei muito. Eu consigo ser bem drama queen certas horas.
Além do que, podia não ser comigo.
Mas aí ela continuou. Mandava língua, puxava os olhos, torcia a boca, e me olhava.
Era pra mim!
Eu achei aquilo tão absurdo que parei de chorar. Será que aquela garota tava me confundindo com alguém?
Depois comecei a achar divertido.
Por fim, eu comecei a sorrir.
Aqueles gestos eram tão sem sentido, tão absurdos, mas tão espontâneos.
Uma garota que nunca tinha me visto na vida não se importava em fazer papel de tola, desde que fizesse uma desconhecida parar de chorar e rir.
Quantas vezes as pessoas teriam coragem de fazer algo assim? Quantas vezes eu fiz? Tu fizeste?
O trem parou, e o casal (eu não sei o que o garoto disse, mas finalmente a menina pareceu ter perdoado qualquer falta) desceu, me deixando um pouco triste novamente por ter perdido aquela companhia.
Mas como se fosse pra me lembrar de algo que ela tinha certeza de que eu iria esquecer, ela bateu com a mão no vidro, chamando minha atenção novamente, e sorrindo pra mim.
O estranho do meu lado perguntou se eu a conhecia.
Eu disse que não, mas aquilo realmente não importava.
Eu não estava mais chorando. E ela sabia disso.