segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Come and get me

Dejá vu é uma coisa engraçada.
Aquela sensação de que já vivenciaste aquele suposto único momento.
Mas dejá vus também acontecem quando vês uma mesma cena se repetir, só que em outro contexto.
Ou melhor, quando te dizem as mesmas coisas, te fazem as mesmas críticas do mesmo jeito, no mesmo sentido.
É de refletir. E refletir é uma palavra velha e antiga, mas que sempre é nova, porque tu sempre a usas de uma maneira diferente.
Tu paras, refletes e vês que não queria ter aquele dejá vu. Querias que fosse diferente.
E diferente é um novo ano. Nem que seja diferença de número.
Então, devido a isso, eu não quero mais estar de manhã, depois de uma noite que deveria ter sido legal, ouvindo alguém falar sobre as minhas coisas erradas e pensar que tô ouvindo o meu mais-do-mesmo. Que eu posso vir a ter outro dejá vu assim.
Eu não quero mais mais-do-mesmo.

De modo que não é uma mudança de número que vai te fazer mudar.
Mas saber que tem outros 365 dias pra não ser igual é bom.
A minha porta tá aberta, 2010, e tô deixando a luz acesa...

* Espero que tenham tido um bom Natal, e um Ano que venha melhor ainda!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ne me quitte pas

Num píer qualquer, uma noite sem estrelas, e um rio de margens coloridas:
- Porquê tu és assim?
- Aff, odeio esse tipo de pergunta. Quer coisa mais chata que isso? Sou porquê sou.
- Mas nem tem porquê. O tempo todo tensa.
- Eu sou assim. Não consigo ser de outra forma. Pareço ligada numa eterna tomada, então relaxar, ficar calma são oxímoros à minha existência. É sério. Esse papo de não-pensar é algo que eu acho que nunca vou aprender a fazer.
- Mas não tem porquê. Olha pra mim. Olha nos olhos. Mas fica séria - Já com um pouco de raiva.
- Eu tô olhando! - Rindo.
- É sério -
- Tá bom - Meio centígrado mais séria.
- Eu não quero nada. Só que tu não fiques tão armada, tão tensa. Não tem porquê. Tu sabes disso. Eu não vou te machucar, e tu sabes que estou sendo sincero. Então, não me afasta.
- Eu vou tentar.
- É sério.
- Táááááá, já sei. Vamos sair daqui. Eu vou acabar caindo nessa água.
- Não vai.
- Tu sabes como eu sou. Desastrada, portanto...
- Eu não vou deixar. Me dá a tua mão.

Ela não caiu, ficou na ponta do pé e o beijou calmamente.
Agora se iria durar, quem pode ou quer saber? O cenário é de história romântica, mas a vida é real.
Tão mais interessante.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Bewitched, bothered and bewildered - Or not!

A minha vassoura quebrou faz tempo, minha bola de cristal já não brilha, as cartas dos tarot são apenas cartas de baralho antigo e amassado. Não procuro significados em nuvens, apesar de ver formas nelas. E nem acho que qualquer sinal é 'o' sinal.
Eu não sei nenhum encantamento, e não sei onde procurar.
Deixei na gaveta o que eu pensei que todo mundo sabia e eu não, porque a cada passo que dou pra frente, mais respostas ficam pra trás, e a floresta do meu lado é grande e vai até onde eu não enxergo mais. Tá, de noite ela deve ser assustadora, mas eu sou corajosa. Ou bem medrosa, mas shiiiiiiiiiiiiiiiiiii!, ninguém precisa saber disso, e eu finjo bem.
Nem cansei de procurar o que eu não sei o que espero encontrar. Cansei de acreditar que todo mundo tem a resposta que as coisas mágicas não me dão. Todo mundo é muita gente de qualquer forma, e eu já acho que sou, às vezes, demais até pra mim.
Deve ser interessante também deixar de tentar dar forma pra tudo que eu penso que sinto de modo que outrém vá entender. É divertido não sentir nada algumas vezes. Ou então brincar de fazer porções: se eu jogar X de defeitos, mais um terço de virtude, médio nada, e toneladas de cara-de-pau pra quebrar a acidez, acho que consigo um resultado bacana. Sério.
E é a receita do que eu gosto.
Vou tirar o fio que liga tudo isso da tomada que fica fora da minha cabana, guardar meu perfil na gaveta, e voltar a brincar com metáforas antigas e sentimentos leves, jogar tudo num caldeirão velho, mas sem meu chapéu de bruxa, que eu não quero vestir nada. Eu sei o que eu sou.
Vou continuar na floresta, e até me dar o luxo de tirar os sapatos. Já brincaram de visualizar alguma coisa? Já tentaram sentir a terra geladinha e úmida nos pés?
Acho que complica demais quando se externaliza ou se põe no outro as respostas das minhas perguntas. Têm algo mais pessoal do que as perguntas que temos?
Dá uma alegria triste, ou uma tristeza alegre. Triste, porque eu conheço o meu perfil, e alegre, por conhecer o meu perfil. Conheço minhas roupas.
Vou mexer o caldeirão até ficar numa cor que eu goste. E aí?
Essa resposta eu tenho.